DIREITO MÉDICO E DA SAÚDE – A relação entre residentes médicos e preceptores.

A residência médica é uma fase crucial na formação de futuros especialistas, marcada pelo intenso aprendizado prático sob a supervisão de preceptores experientes. Essa relação é fundamental para o desenvolvimento das habilidades técnicas e comportamentais dos residentes, mas também envolve responsabilidades jurídicas e éticas que devem ser observadas por ambas as partes.

Aspectos Jurídicos da Relação entre Residentes e Preceptores.

O vínculo entre residentes e preceptores é essencial para garantir uma formação de qualidade. O preceptor não só compartilha conhecimentos técnicos, mas também atua como mentor, inspirando e orientando o residente na tomada de decisões complexas. Por outro lado, os residentes devem se mostrar abertos ao aprendizado, mantendo uma postura ética e respeitosa, reconhecendo a autoridade do preceptor sem deixar de questionar e buscar o entendimento profundo das práticas médicas. Esse relacionamento saudável e respeitoso promove um ambiente de aprendizado seguro e eficaz.

No que concerne ao mundo jurídico, no Brasil, além das normativas do Conselho Federal de Medicina e dos Conselhos Regionais de Medicina, os programas de residência são regulados pela Lei 6.932, de 1981, que dispõe sobre as atividades do médico residente.

Considerando a existência de uma lei para a regulamentação, não obstante o fato de que tudo em nosso cotidiano está ligado ao Direito, resta evidente que a relação entre residentes e preceptores, apesar de ser um vínculo entre profissionais da medicina, também possui implicações jurídicas relevantes.

O residente é considerado um profissional em formação, vinculado a uma instituição de saúde e, geralmente, a uma universidade, o que implica em direitos e deveres específicos, sendo eles, por exemplo:

  1. Responsabilidade Profissional: a definição da responsabilidade perante algum ato médico prático depende da análise e comprovação de fatores específicos. Assim, mesmo que o residente esteja em formação e sob supervisão, ele pode ser responsabilizado por determinados atos.
  2. Supervisão e Responsabilidade do Preceptor: O preceptor é legalmente responsável pela supervisão das atividades do residente, devendo orientá-lo e corrigi-lo sempre que necessário. Negligência na supervisão pode acarretar responsabilidade solidária em casos de erros médicos.
  3. Jornada de Trabalho: A residência médica é regulamentada pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), garantindo aos residentes uma carga horária máxima de 60 horas semanais, incluindo plantões, com direito a descanso semanal (Lei 6.932/81, art. 5° e 5°, §1°).
  4. Direitos e Deveres Éticos: Tanto residentes quanto preceptores devem seguir o Código de Ética Médica, respeitando fielmente suas diretrizes.

Responsabilidade pelos Atos Médicos: Residente, Preceptor ou Solidária?

A responsabilidade pelos atos médicos realizados por residentes é um tema complexo e relevante no contexto jurídico da residência médica. A definição dessa responsabilidade depende da natureza do ato praticado, do grau de supervisão e do vínculo hierárquico entre o residente e o preceptor. Assim, a responsabilidade pode acabar recaindo para o residente, para o preceptor, para ambos (responsabilidade solidária) ou, ainda, para a instituição de saúde.

O residente é responsável pelos atos médicos que executa, desde que sejam compatíveis com seu nível de formação e realizados sob a devida supervisão. Ele responde individualmente em casos de imperícia, negligência ou imprudência, dentro dos limites de sua competência.

Por sua vez, o preceptor, por ser responsável pela supervisão direta do residente, pode responder pelos atos praticados pelo residente quando houver falha na orientação, ausência de supervisão adequada ou delegação de tarefas incompatíveis com o nível de formação do residente. A responsabilidade surge especialmente quando o erro médico é decorrente de omissão ou falha na supervisão.

Em situações em que o residente atua sob supervisão direta do preceptor, a responsabilidade pode ser solidária, ou seja, tanto o residente quanto o preceptor podem ser responsabilizados pelos danos decorrentes do ato médico. Isso ocorre principalmente quando o preceptor participa ativamente do procedimento ou avalia as decisões tomadas pelo residente.

Por fim, a instituição de saúde também pode ser responsabilizada de forma subsidiária ou solidária, dependendo do vínculo empregatício e da organização hierárquica do programa de residência. Isso se aplica quando há falhas na estrutura organizacional, na capacitação dos preceptores ou na disponibilização de recursos adequados para o exercício seguro da prática médica.

Portanto, a responsabilidade pelos atos médicos na residência é definida de forma casuística, considerando o nível de autonomia do residente, a qualidade da supervisão e as circunstâncias específicas de cada caso. Para garantir segurança jurídica, é essencial que tanto residentes quanto preceptores compreendam seus papéis e limitações, atuando sempre com transparência e ética profissional.

Conclusão

A relação entre residentes médicos e preceptores é uma parceria essencial para a formação profissional e a garantia de qualidade na assistência à saúde. No entanto, é importante reconhecer que o dia a dia da medicina nem sempre segue rigidamente os parâmetros legais. Na prática, residentes frequentemente se deparam com situações desafiadoras, em que decisões precisam ser tomadas rapidamente, mesmo diante de incertezas.

Diante desse cenário, é crucial que os residentes tenham ao menos uma noção jurídica de suas responsabilidades e limitações. Essa compreensão ajuda a evitar ou minimizar problemas legais e éticos que possam surgir ao longo de sua formação. Além disso, estar ciente dos aspectos jurídicos da residência médica contribui para uma atuação mais segura e consciente, resguardando tanto o residente quanto o preceptor e a instituição de saúde.

Portanto, cultivar um relacionamento de respeito mútuo, baseado na ética e no compromisso com o aprendizado, continua sendo a base de um ambiente de ensino produtivo e seguro. Mas é igualmente essencial que o residente tenha clareza sobre seu papel jurídico na assistência à saúde, buscando sempre atuar com responsabilidade e transparência.

A assessoria jurídica especializada em Direito Médico é recomendada para esclarecer dúvidas e garantir que todos os direitos e deveres sejam cumpridos. Se precisar de orientação ou suporte, nosso escritório está à disposição para auxiliá-lo(a).

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